O Vicente da Caminhadeira
Vicente
Lopes Vidal de Negreiros
Sem necessidade de matizarmos acontecimentos, malgrado nosso, característica intrínseca de muitos dos cronistas-historiadores cearenses, vimos aqui descortinar, mais uma vez, com o
ineditismo que invariavelmente tem pautado este bloguezinho, outro episódio que
possui magno relevo em nossa história, desta feita, nos faustos criminais.
A vida de Vicente Lopes Vidal de Negreiros foi constituída no mais espetacular enredo de crimes e perseguições supra-estaduais que eclipsa, com folga, o melhor roteiro de qualquer filme de faroeste hollywoodiano.
Nesta postagem reparamos muito daquilo que ficou dispendido até este instante sobre os sucessos do Vicente da Caminhadeira eternizado nas <Memórias do Prof. Ximenes Aragão> “salvas” pelo cronista-romancista-político-jornalista Cel João Brígido dos Santos que entregou no ocaso do século XIX o original deste manuscrito ao mais prestigiado e acreditado historiador brasileiro, o próprio Capistrano de Abreu que o levou pessoalmente à Biblioteca Nacional/Arquivos do Instituto Histórico Brasileiro.
Tentaremos escoimar amiúde, o relato constante do manuscrito do Cel Tomás Catunda, sob o título, <A Vida de Vicente Lopes Vidal de Negreiros> publicado na Revista do Instituto do Ceará em 1918 pelo percuciente Eusébio de Sousa.
Retificaremos, tal-qualmente, diversos trechos contidos na obra do grande cronista
Nertan Macedo, que deixou largo relato com inexatidões sobre o Caminhadeira no seu mais conhecido trabalho, <O Bacamarte do Mourões>,
Ed. Instituto do Ceará, (1966), pelo que assim atingiremos, comumente, dezenas de publicações sobre o tema.
Daremos também o paradeiro do Vicente da Caminhadeira, o qual muito bem poderia ter sido crismado como Vicente da Caiçara, verdadeiro nome da sua fazenda, distante meia légua da sede da Fazenda Caminhadeira.
Elidiremos as pendências da pertença toponímica do Vicente Lopes Vidal de Negreiros, colocando um divisor de águas entre a Fazenda Caminhadeira que demora cortada pelo Rio Aracatiaçu e o seu verdadeiro imóvel, a Fazenda Caiçara entrecortada pelo Riacho do Agreste, distante 3 Km da sede fazenda Caminhadeira. Tudo isso circunscrito ao perímetro do atual Município de Irauçuba no Ceará.
Outrossim, demonstraremos utilizando em parte seu inventário
concluso em 1872 que o Caminhadeira estava muy lejos de ser pobre, como tanto insistiu o Cel
Tomás Catunda na sua obra algures mencionada.
O Ten Cel José Felipe Ribeiro Campos, é o quarto avô do nosso estimadíssimo primo e amigo, o brilhante historiador, Fernando Araújo Farias que partindo dessa para melhor, imerecidamente nos dedicou sua última obra <A História de Boa Viagem>
Enfim, transportaremos o leitor das fábulas à realidade. Postaremos em capítulos-publicações
sucessivas a partir de hoje, 21 de março de 2023, a verdade nua e
crua sobre o Vicente Lopes Vidal de Negreiros, seu modus vivendi et operandi.
O Canário
A Nêga véia
Quis caprichosamente o sopro do destino com a mais supina e inaudita ironia que nosso erudito colega pesquisador e grande amigo, o Dr Antonio Melo Mourão Neto, lídimo representante e descendente pelo
costado paterno em 7ª geração daqueles que perseguiram implacavelmente o nosso Caminhadeira plotar e ler, em primeira mão, o inventário
deste protegido dos Ribeiro Campos, que faleceu sem testamento aos 28
de setembro de 1871, pelo que aqui daremos também publicidade a este inventário (cópia da íntegra deste documento já em nosso poder).
Maior honra e prestígio não poderíamos desfrutar, pois obtivemos permissão do Dr. Mourão em dar publicidade à sua belíssima missiva prenhe de satisfação e grande emoção quando tomou ciência pela primeira vez, passados mais de um século e meio, do real destino do Vicente da Caminhadeira.
Ad perpetuam rei memoriam
“Antônio Melo
Mourão Neto, um legítimo Mourão, finalmente encontrou o Caminhadeira e pôs
termo final em uma saga centenária. Foi procurado até debaixo de pedras por
nós, os Mourões. Foi se esconder nos escaninhos de uma prateleira empoeirada.
Corre para lá e corre para cá. Até sangue inocente foi derramado na busca. Tudo
na tentativa de aplacar os ânimos de vingança de gente com forte temperamento
que constitui a nossa cepa. De tanto andar, Vicente foi buscar esconderijo no
Sopé da Serra da Caminhadeira. Quanta ironia! Ali o Lopes Vidal de Negreiros cede
ao nome do lugar que o abrigou, a Caminhadeira. Nada mais apropriado a quem
tanto caminhava. Pois bem, nada de mais homicídios. Os tempos são outros. Os
sentimentos também. O que marca o fim dessa odisseia é a escrita de mais uma
página na história. Afinal, a alguém com tão pouca expressão como eu coube
concretizar tal feito. Honro, assim, meu passado. Honro meus antepassados.
Página virada. Cessadas estão as perseguições. Os Mourões podem descansar em
paz. O Caminhadeira não precisará mais se esconder e assim também descansar.
Cessam agora os tempos de beligerância. Caminhadeira, encontrei a ti para te
dizer que ninguém foge dos Melos e Mourões para sempre. Ninguém! Para te dizer
também que agora você pode seguir em paz. Para te dizer que os tempos de paz
nesse caso chegaram. Sigamos todos nesse sentimento de orgulho e de paz. Não
sou estaca. Sou Mourão! Sebastião Ribeiro Mello, Alexandre da Silva Mourão e
muitos outros da minha parentela, missão cumprida! Já podem baixar as
armas”
Finis primum caput!
210243ZMAR23TUE
Águas de Lindóia-SP
Clovis Ferreira da Cruz Ribeiro de Campos Lobo, PVT (E-1)
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