Non scholæ sed vitæ discimus

quinta-feira, 23 de março de 2023

O Vicente da Caminhadeira

 

O Vicente da Caminhadeira

 Vicente Lopes Vidal de Negreiros




         Sem necessidade de matizarmos acontecimentos, malgrado nosso, característica intrínseca de muitos dos cronistas-historiadores cearenses, vimos aqui descortinar, mais uma vez, com o ineditismo que invariavelmente tem pautado este bloguezinho, outro episódio que possui magno relevo em nossa história, desta feita, nos faustos criminais. 

          A vida de Vicente Lopes Vidal de Negreiros foi constituída no mais espetacular enredo de crimes e perseguições supra-estaduais que eclipsa, com folga, o melhor roteiro de qualquer filme de faroeste hollywoodiano.  

               Nesta postagem reparamos muito daquilo que ficou dispendido até este instante sobre os sucessos do Vicente da Caminhadeira eternizado nas <Memórias do Prof. Ximenes Aragão> “salvas” pelo cronista-romancista-político-jornalista Cel João Brígido dos Santos que entregou no ocaso do século XIX o original deste manuscrito ao mais prestigiado e acreditado historiador brasileiro, o próprio Capistrano de Abreu que o levou pessoalmente à Biblioteca Nacional/Arquivos do Instituto Histórico Brasileiro.

          Tentaremos escoimar amiúde, o relato constante do manuscrito do Cel Tomás Catunda, sob o título, <A Vida de Vicente Lopes Vidal de Negreiros> publicado na Revista do Instituto do Ceará em 1918 pelo percuciente Eusébio de Sousa.  

           Retificaremos, tal-qualmente, diversos trechos contidos na obra do grande cronista Nertan Macedo, que deixou largo relato com inexatidões sobre o Caminhadeira no seu mais conhecido trabalho, <O Bacamarte do Mourões>, Ed. Instituto do Ceará, (1966), pelo que assim atingiremos, comumente, dezenas de publicações sobre o tema.   

            Daremos também o paradeiro do Vicente da Caminhadeira, o qual muito bem poderia ter sido crismado como Vicente da Caiçara, verdadeiro nome da sua fazenda, distante meia légua da sede da Fazenda Caminhadeira

                 Elidiremos as pendências da pertença toponímica do Vicente Lopes Vidal de Negreiros, colocando um divisor de águas entre a Fazenda Caminhadeira que demora cortada pelo Rio Aracatiaçu e o seu verdadeiro imóvel, a Fazenda Caiçara entrecortada pelo Riacho do Agreste, distante 3 Km da sede fazenda Caminhadeira. Tudo isso circunscrito ao perímetro do atual Município de Irauçuba no Ceará. 

            Outrossim, demonstraremos utilizando em parte seu inventário concluso em 1872 que o Caminhadeira estava muy lejos de ser pobre, como tanto insistiu o Cel Tomás Catunda na sua obra algures mencionada.  

             Fato é que o Vicente da Caminhadeira sempre gozou de homizio diante das múltiplas perseguições e embocadas promovidas pelos Mourões nas casas fortes do Ten Cel José Felipe Ribeiro Campos, tanto no termo do Tamboril como em Quixeramobim/Boa Viagem. 

               O Ten Cel José Felipe Ribeiro Campos, é o quarto avô do nosso estimadíssimo  primo e amigo, o brilhante historiador, Fernando Araújo Farias que partindo dessa para melhor, imerecidamente nos dedicou sua última obra <A História de Boa Viagem>     

          Enfim, transportaremos o leitor das fábulas à realidade. Postaremos em capítulos-publicações sucessivas a partir de hoje, 21 de março de 2023, a verdade nua e crua sobre o Vicente Lopes Vidal de Negreiros, seu modus vivendi et operandi.


                                        O Canário



                                      A Nêga véia


          Saberemos da sua ascendência que passa pelos notáveis Bandeira de Melo, comumente sua descendência, seus seis filhos, quatro homens e duas mulheres.  

              Entrementes, o highlight desta nossa postagem não se prende tão somente a discorrer sobre a existência do Caminhadeira, em absoluto! O mais surreal e mais pungente é a revelação de quem finalmente encontrou o paradeiro do Vicente Lopes Vidal de Negreiros! 

          Quis caprichosamente o sopro do destino com a mais supina e inaudita ironia que nosso erudito colega pesquisador e grande amigo, o Dr Antonio Melo Mourão Neto, lídimo representante e descendente pelo costado paterno em 7ª geração daqueles que perseguiram implacavelmente o nosso Caminhadeira plotar e ler, em primeira mão, o inventário deste protegido dos Ribeiro Campos, que faleceu sem testamento aos 28 de setembro de 1871, pelo que aqui daremos também publicidade a este inventário (cópia da íntegra deste documento já em nosso poder).

        Maior honra e prestígio não poderíamos desfrutar, pois obtivemos permissão do Dr. Mourão em dar publicidade à sua belíssima missiva prenhe de satisfação e grande emoção quando tomou ciência pela primeira vez, passados mais de um século e meio, do real destino do Vicente da Caminhadeira. 


                      Ad perpetuam rei memoriam


                        “Antônio Melo Mourão Neto, um legítimo Mourão, finalmente encontrou o Caminhadeira e pôs termo final em uma saga centenária. Foi procurado até debaixo de pedras por nós, os Mourões. Foi se esconder nos escaninhos de uma prateleira empoeirada. Corre para lá e corre para cá. Até sangue inocente foi derramado na busca. Tudo na tentativa de aplacar os ânimos de vingança de gente com forte temperamento que constitui a nossa cepa. De tanto andar, Vicente foi buscar esconderijo no Sopé da Serra da Caminhadeira. Quanta ironia! Ali o Lopes Vidal de Negreiros cede ao nome do lugar que o abrigou, a Caminhadeira. Nada mais apropriado a quem tanto caminhava. Pois bem, nada de mais homicídios. Os tempos são outros. Os sentimentos também. O que marca o fim dessa odisseia é a escrita de mais uma página na história. Afinal, a alguém com tão pouca expressão como eu coube concretizar tal feito. Honro, assim, meu passado. Honro meus antepassados. Página virada. Cessadas estão as perseguições. Os Mourões podem descansar em paz.  O Caminhadeira não precisará mais se esconder e assim também descansar. Cessam agora os tempos de beligerância. Caminhadeira, encontrei a ti para te dizer que ninguém foge dos Melos e Mourões para sempre. Ninguém! Para te dizer também que agora você pode seguir em paz. Para te dizer que os tempos de paz nesse caso chegaram. Sigamos todos nesse sentimento de orgulho e de paz. Não sou estaca. Sou Mourão! Sebastião Ribeiro Mello, Alexandre da Silva Mourão e muitos outros da minha parentela, missão cumprida! Já podem baixar as armas”  

 

Finis primum caput!


210243ZMAR23TUE  


Águas de Lindóia-SP  


Clovis Ferreira da Cruz Ribeiro de Campos LoboPVT (E-1)