Non scholæ sed vitæ discimus

segunda-feira, 21 de abril de 2025

 


Apelo aos Em.mos. Exmos. e Revdmos. Srs. Clérigos neste Sábado Santo e Páscoa universal de 2025 

 

No silêncio suspenso do Sábado Santo, enquanto o mundo chafurda na indiferença e a liturgia silencia em antecipação à glória pascal, a Igreja se encontra contemplando os mistérios que a geraram. Este dia aparentemente vazio possui na um portentoso significado. É a véspera da ressurreição, mas também o tempo do sepultamento.

É o ​​silêncio da espera que precede a vitória definitiva sobre o pecado e a morte. A Tradição, a verdadeira, recebida dos apóstolos e não reinterpretada segundo modas clericais ou tendências modernistas, nos ensina que este é o momento em que tudo se realiza, mas nada se mostra. 

Durante a Semana Santa, a quinta-feira, não a sexta-feira, como os novos calendários distraídos nos querem fazer crer, era o dia que se abriam as portas para a mais íntima comunhão do cristianismo. Era o dia da reconciliação pública dos pecadores, a véspera do sacrifício, o momento da renovação das promessas sacerdotais e, sobretudo, o memorial vivo da instituição da S. Eucaristia e do Sacerdócio.

Agora, com o Redentor no túmulo e com os altares sagrados nus e silenciosos, só podemos nos perguntar que imagem do sacerdócio realmente queremos seguir, porque hoje, como então, há aqueles que traíram, aqueles que dormiram, aqueles que fugiram. Mas também há aqueles que permaneceram. Aqueles que vigiaram com Maria. Aqueles que recolheram o sangue precioso que desceu da cruz. Aqueles que mantiveram a fé enquanto os outros gritavam "Crucifica-o".

É preciso definir se realmente queremos honrar o sacerdócio de Cristo e não o sacerdócio corrompido hodierno. Falamos claramente com a franqueza que escandaliza mais do que os pecados. Muitos católicos desgraçadamente vivem sob a marquise  de uma Igreja adulterada, traída por pastores infiéis, desfigurada por uma hierarquia que optou em perder o rosto de Cristo para usar a máscara do mundo. Numa época em que a fumaça de Satanás, terrivelmente evocada por Paulo VI, parece não só ter entrado, mas ter-se aclimatado bem nos píncaros da cúria romana.

Tradidi quod et accepi. Dei o que recebi (1 Cor 11, 23). Palavras que não permitem compromissos nem reinvenções, porque a fé não se cria, conserva-se. O Evangelho não se adapta, prega-se. O sacrifício não se alivia. Vive-se até à última gota. E aqueles que não estão dispostos a ser perseguido por Cristo e serem ridicularizados, odiados e marginalizados simplesmente não entenderam o que significa o sacerdócio católico. 

O episcopado não é uma honra ou uma carreira para se escalar, mas uma cruz para carregar, um legado para defender, um serviço para ser prestado.

E se hoje aqueles que ocupam as cátedras da Igreja não ensinam mais a sã doutrina e distorcem o magistério, anulando os sacramentos então é legítimo e necessário resistir.

Obedecer antes a Deus do que aos homens não é rebelião, é um ato de fidelidade ao Senhor, à tradição, à verdadeira Igreja que não se deixa prostituir pelos costumes atuais tampouco a um cristianismo irônico e acomodatício ao mundo que tem mais a ver com a ONU do que com o gólgota.

É necessário retornar aos fundamentos do sacrifício da Missa. O sacerdócio não é uma função social, mas uma identificação real e mística com o Cordeiro.

E se o mundo odeia tudo isso é porque já odiou o mestre.

E assim,  justamente na penumbra deste sábado silencioso enquanto a pedra do túmulo parece ter selado para sempre a esperança é que se compreende o múnus do sacerdócio. Não uma autoafirmação, mas uma aniquilação. Não um prestígio, mas um serviço. 

A S. Missa é o centro e o eixo da nossa fé. Ela não é uma celebração coletiva para ser animada com guitarras e sorrisos, mas a renovação incruenta do sacrifício único do Calvário. Um mistério tremendo diante do qual não se deve tremer, muito menos aplaudir.

O sacerdote não oferece apenas o corpo e o sangue de N.S.J.C.!  Ele se oferece. Ele é chamado a ser vítima no altar. Ele não pode dissociar-se daquilo que celebra e, se o faz, junta-se ao Iscariotes. Por isso a vida de um sacerdote não pode ser confortável. Não pode ser mundana. Não pode ser ambígua. Deve ser uma vida de um crucificado, daí o negro da batina. Só o crucifixo salva.  

Não somos chamados a sobreviver, mas a morrer por Cristo para depois ressuscitar com Ele. O Evangelho não tolera os mornos, aqueles que pretendem se salvar querendo permanecer em cima do muro, um pouco com Deus, um pouco com o mundo. O sacerdócio em sua essência é incompatível com a tibieza, com o compromisso com o mundano. Ou você pertence a Cristo ou não.

E hoje, enquanto o barco de Pedro é conduzido em direção às rochas por aqueles que têm o dever de guardá-lo, esta verdade soa como um chamado final à fidelidade absoluta à tradição viva, à Missa de todos os tempos, à doutrina inegociável.

Aqueles que receberam a sagrada unção não têm o direito de vender a herança recebida. Eles não podem reler o evangelho com as lentes do mundo, nem transformar os sacramentos em instrumentos de inclusão social. O padre é um guardião, não um inovador. Ele é um servo da verdade, não um diretor de um programa dominical. E se ele fica em silêncio enquanto N.S.J.C. é crucificado novamente em sua igreja, ele irá ser julgado com mais severidade do que aqueles que O entregaram ao sinédrio.

E precisamente hoje, nesta hora dramática da história em que a Igreja aparece obscurecida por uma hierarquia cada vez mais cúmplice do mundo e cada vez menos fiel ao Evangelho é que as vozes daqueles que ousam falar da paixão da Igreja ressoam com mais força. Esta não é uma hipérbole devota, mas uma observação teológica e histórica. Assim como o corpo físico do Senhor foi traído, capturado, escarnecido e crucificado, assim também hoje o Corpo Místico está  a experimentar o mesmo calvário.

Testemunhamos sem mais nos surpreendermos a inversão da ordem estabelecida por Deus. Os defensores da tradição transmitida pelos apóstolos são rotulados como divisores, enquanto os apoiadores da heresia são aplaudidos por seu espírito sinodal.

O sacrifício é substituído pelo convívio, a penitência pela psicologia, o dogma pela ambiguidade. E enquanto tudo isso acontece, os fiéis permanecem perdidos, confusos, muitas vezes traídos por aqueles que deveriam conduzi-los à salvação.

Todavia nesta desolação, nesta noite da alma, uma luz ainda brilha, a do eterno sacerdócio de N.S.J.C., que continua a viver naqueles poucos, pouquíssimos sacerdotes que não desistiram. 

Homens simples, muitas vezes sozinhos, ignorados, até mesmo perseguidos, mas fiéis. Fiéis à Santa Missa de todos os tempos celebrada com reverência de joelhos diante de Deus e fiéis à doutrina católica, aquela que salva, aquela que converte, aquela que ilumina. Sacerdotes fiéis à Santíssima Virgem, Rainha dos sacerdotes, Mãe do sumo e eterno Sacerdote. 

São eles que se reúnem em torno do altar do Calvário e repetem com tremor as palavras proferidas por Nosso Senhor, Hæc quotiescumque feceritis in mei memoriam faciest.  

Assim e somente assim, se mantém o fogo do legado de N.S.J.C., não em assembleias consultivas, nem em conferências sobre o clima ou a igualdade de gênero, mas no altar onde o céu toca a terra e o sangue redime o mundo.

Em última análise, tudo se resume a isso. Ser padre significa pertencer a Cristo, não ao mundo.

Quem trai a S. Missa, quem esvazia os sacramentos, quem altera a doutrina, trai a Cristo. E todo aquele que permanece em silêncio diante desse ultraje é cúmplice.

Somente permanecendo fiéis à tradição, somente reunindo-nos em torno da cruz, somente amando como N.S.J.C. nos amou, podemos ainda esperar o renascimento da Igreja.


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